quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Software produz imagem do "você" ideal


A mulher à direita é mais atraente que a mulher à esquerda? Seus olhos mais separados, a distância mais longa entre a linha dos cabelos e o início do nariz e o formato arredondado de seu rosto o tornam mais bonito? A fotografia à direita foi alterada pelo "sistema de embelezamento" de um novo programa de computador que emprega uma fórmula matemática para alterar a forma original e gerar uma versão teoricamente mais atraente, mantendo o que seus programadores definem como "semelhança inconfundível" com o original.
O software, desenvolvido por cientistas da computação em Israel, se baseia em respostas de 68 homens e mulheres, com idade entre os 25 e os 40 anos, de Israel e da Alemanha, que observaram fotos de rostos masculinos e femininos brancos e selecionaram os mais atraentes.

Os cientistas tomaram esses dados e aplicaram um algoritmo que envolve 234 medições de traços de rosto, entre as quais a distância entre os lábios e o queixo, a testa e os olhos ou a que separa os olhos.

Eles essencialmente treinaram um computador para que determinem diante da imagem de qualquer rosto, o conjunto mais atraente de distâncias e depois escolhem o resultado ideal mais próximo ao rosto original. Ao contrário de outras pesquisas envolvendo fórmulas de beleza facial, o programa não produz um ideal para cada traço, digamos uma certa largura de olhos ou comprimento de queixo.

Os pesquisadores aplicaram o software a 92 fotos de mulheres e 33 de homens, criando imagens anteriores e posteriores às alterações. As mudanças afetam apenas a geometria do rosto, sem os retoques digitais realizados em fotos de moda, ou eliminação de rugas ou alterações na cor dos cabelos.

Os resultados da pesquisa, publicados no boletim da conferência de computação gráfica Siggraph, em agosto, representam um dos mais recentes estudos no campo que combina beleza e ciência, o qual vem atraindo crescente interesse acadêmico nos últimos 10 anos. Estudos demonstram que existe acordo notável quanto aos traços que conferem beleza a um rosto. Simetria é uma das bases, bem como juventude; clareza ou suavidade de pele; e cores vívidas, nos olhos e cabelos principalmente. Existe pouca divergência quanto a essas características entre pessoas de diferentes culturas, etnias, raças, idades e sexos.

Mas, como muitas outras tentativas de utilizar princípios objetivos ou até fórmulas matemáticas para definir a beleza, o software suscita questões que psicólogos, filósofos e feministas definem como complexas ou até perturbadoras sobre as percepções e os ideais de beleza. Até que ponto a medida pode ser quantificada? Uma definição supostamente científica reflete apenas os ideais do momento, construídos com imagens da cultura pop e da mídia?

"Como se pode provar o ponto?", questiona o historiador Louis Banner, que estudou a mudança dos ideais de beleza, em referência aos esforços científicos para definir beleza. "Não se pode localizá-la em um gene. A influência cultural é inescapável".

Tommer Levyand, que desenvolveu o software de embelezamento com três colegas da Universidade de Tel-Aviv e trabalha como programador para a Microsoft, diz que o objetivo não era afirmar que os rostos modificados eram mais bonitos que os originais O objetivo era superar o desafio de alterar um rosto de acordo com padrões aceitos de beleza mantendo-o completamente reconhecível, ao contrário do que pode acontecer com o uso de cirurgia cosmética ou retoques digitais.

"A ferramenta demonstra de forma simples como é fácil manipular uma foto para tornar uma pessoa mais atraente", disse Levyand. "A diferença é sutil a ponto de se provar insignificante. Estamos falando de alguns centímetros e de uma percepção ligeiramente alterada".

O software realiza apenas mudanças sutis, na maioria dos rostos, sem mudar a essência da pessoa. No caso de uma mulher retratada aqui, as mudanças são maiores, provavelmente porque ela tem traços mais étnicos do que muitos dos demais homens e mulheres fotografados, disse Levyand.

A mulher, Martina Eckstut, 25, executiva de atendimento em uma agência de Nova York, foi voluntária para posar para o artigo e ter sua imagem embelezada pelo software de Levyand. Ela diz que se espantou com a diferença, na segunda foto. "Acho que a segunda foto é bonita, mas não se parece comigo em muita coisa", ela afirmou em mensagem de e-mail. "Minha estrutura óssea, formato de rosto e tamanho de olhos foram mudados, e parece que a cor de meus lábios também foi alterada". Ela acrescentou que "eu prefiro manter meu rosto original".

Embora diversos estudos psicológicos nas últimas décadas tenham sugerido que percepções de beleza e atratividade tendem a ser universais, os críticos desses trabalhos dizem que é discutível que a beleza de alguém seja mesmo aumentada por essas mudanças. A personalidade pode se perder. Traços genéricos podem predominar. O que é peculiar pode se tornar comum.

Quando Levyand aplicou seu programa a uma foto de Brigitte Bardot, os lábios grossos da estrela foram afinados e sua beleza deixou de ser tão notável - ela deixou de se parecer consigo mesma. (Em contraste, as fotos do ator James Franco quase não mudaram, antes e depois do programa, o que sugere que sua beleza clássica já é quase perfeita.)

Depois de observar as fotos de participantes anônimos no estudo de Levyand, Banner, professor de história na Universidade do Sul da Califórnia, afirmou que os rostos originais lhe pareciam mais atraentes. "A beleza irregular é a verdadeira beleza", ele disse, acrescentando que essas tentativas de medir beleza são movidas pela mesmice cultural, em um esforço por fazer com que todas as pessoas se pareçam.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

via: portalterra

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