O cliente criativo.

Existe uma teoria que diz que todas as pessoas são criativas. Claro que em graus diferentes, mas todas, efetivamente, criativas. O problema é que algumas pessoas simplesmente se acham acima da média. Pior, acima da média dos profissionais de criação.

Quem nunca conheceu um daqueles clientes que contratam uma agência para cuidar da sua comunicação, faz inúmeras reuniões com o atendimento e, na hora da criação pôr a mão na massa, começam a sentir aquela coceirinha danada na língua? Claro que ele só quer ajudar e o que ele diz deve ser levado em consideração. Mas isso não quer dizer que ele pode se colocar no lugar dos profissionais da agência, inundando nossos ouvidos com “achismos” e “veja bens”.

Isso é o mesmo de ir ao médico e questionar o trabalho dele. Imagine a cena:
- Doutor, aqui estão os exames.
- Vamos ver. Pelo que vejo aqui, o senhor está com pneumonia. É melhor o senhor ficar em casa por cinco dias... (interrupção)
- Como assim cinco? Pô, doutor, não exagera... dois dias já tá muito bom...
- Mas o senhor precisa desse repouso para não debilitar ainda mais o seu sistema imunológico e absorver melhor os medicamentos... (outra interrupção)
- Medicamento”S”? Benegripe, né? Um comprimidinho de cada cor? Um amarelo e um verde?
- Você não entende? O senhor precisa de tratamento imediato e ininterrupto. Caso contrário, pode evoluir para outra doença mais grave!
- Ah, então tá. Mas, quando vai começar esse tratamento aí?
- Hoje, agora... o mais rápido possível...
- Ih, não vai dá. Combinei uma pescaria com uns amigos no Pantanal para essa semana. Faz o seguinte, troca essa pneumonia por uma conjuntivite e esse repouso por umas cervejinhas que assim que eu arrumar um tempinho eu faço tudo direitinho. Tá bom, doutor?

Se você não faz isso com o profissional que cuida da sua saúde, porque vai fazer com aquele que cuida da saúde da sua empresa? O publicitário estuda, pesquisa, ouve, fala, debate, conversa, colhe informações onde conseguir para fundamentar um conceito de comunicação e criar campanhas cada vez mais criativas, atraentes e vendedoras.

Dá próxima vez que você se deparar com um cliente desses, não tenha medo. Se ele questionar muito seus métodos e soluções, diga para ele procurar uma segunda opinião. Ele logo vai notar que problema não é com as agências.

Texto de Tobias Botelho